A hepatite Delta (HDV) é considerada endêmica na Amazônia brasileira. Ela é associada aos quadros mais graves de doença hepática, com risco aumentado para o desenvolvimento de cirrose hepática e câncer de fígado quando comparada à hepatite B (HBV).
O diagnóstico dos pacientes é normalmente realizado por meio de exame sorológico, entretanto, pesquisadores da Fiocruz Rondônia e colaboradores desenvolveram recentemente um teste molecular quantitativo para o diagnóstico da hepatite Delta proporcionando um melhor monitoramento da progressão patológica e melhor análise da eficácia do tratamento utilizado, no acompanhamento de pacientes crônicos nos estados de Rondônia e Acre.
Para compreender os fatores envolvidos na endemicidade da doença no município de Lábrea e comunidades ribeirinhas próximas, e oferecer um melhor atendimento aos portadores crônicos da hepatite Delta, por meio do diagnóstico Molecular para HDV, pesquisadores da Fiocruz Rondônia e a equipe do Laboratório de Virologia Molecular participaram de uma ação em conjunto com a Secretaria Municipal de Saúde (Semsa-Lábrea) e o Centro de Testagem e Acompanhamento (CTA) do município. O município de Lábrea, localizado ao sul do estado do Amazonas, a 407 km de Porto Velho-RO e a 850 km de Manaus-AM, com população estimada em 45 mil habitantes (conforme o IBGE, 2022), possui aproximadamente 577 notificações para as hepatites virais crônicas: B, C e Delta, segundo dados da Semsa/Lábrea-AM. O CTA do município acompanha 180 pacientes portadores crônicos de hepatite B e Delta.
A primeira ação foi realizada no polo de saúde Raimundo Costa de Oliveira, na comunidade ribeirinha Madeirinho, às margens do rio Purus, onde a equipe também recebeu moradores de localidades vizinhas. O prefeito da cidade, Gean Campos de Barros, destacou a relevância deste trabalho. Segundo ele, “parcerias na área da saúde são fundamentais, pois permitem conhecimento dentro de uma área tão importante para a nossa região, além de trazer benefícios e melhorias na prestação de serviços à saúde da população”.
Entre as ações organizadas no município, foram definidas uma ação de testagem rápida para Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s) e coleta de amostras biológicas de indivíduos com positividade para Hepatite B. Foram realizados 175 testes rápidos para HIV, sífilis e as hepatites B e C.
Os moradores (adultos e crianças) foram atendidos com vacinação para Covid-19, tétano, febre amarela, influenza, hepatite B e meningite, além de consultas médicas e liberação de medicamentos. Para o atendimento abrangente da população, a equipe do Laboratório de Virologia Molecular fez busca ativa de moradores portadores da hepatite Delta.
Dário Vicente da Silva, secretário de saúde de Lábrea, demonstrou preocupação diante do histórico de surtos recorrentes de doenças como a malária, hepatites, tuberculose e hanseníase,
além destas enfermidades, sofremos ainda com a febre Negra de Lábrea o que torna emergente a implementação de estratégias contínuas de rastreamento e controle dessas doenças que são endêmicas na região”,
declarou Dário, agradecendo o apoio da Fiocruz Rondônia para o monitoramento dos casos de hepatites e acompanhamento aos pacientes.
Capacitação de profissionais sobre as hepatites B e Delta
No campus da Universidade Estadual de Lábrea (UEA), foi organizada uma capacitação direcionada a 50 trabalhadores da área da saúde sobre hepatites B e Delta, ministrada pela pesquisadora em Saúde Pública, Deusilene Vieira, chefe do Laboratório de Virologia Molecular, e por Ana Maísa Passos da Silva, gestora do Ambulatório Especializado em Hepatites Virais de Rondônia, abordando a epidemiologia das hepatites virais, métodos de transmissão e fluxo de diagnóstico dessas patologias.
A enfermeira Antônia Raimunda Barros da Silva, coordenadora do CTA-Lábrea, conhece bem as dificuldades da região. Para ela,
essas ações são muito significativas para a saúde da população e para nós – profissionais da saúde – uma vez que todos precisamos estar em contato com informações atualizadas sobre essas doenças tão comuns na região e os avanços no diagnóstico e monitoramento de nossos pacientes, o que normalmente não é possível sem o envolvimento de pessoas e instituições que estejam preocupadas com as nossas condições de saúde na Amazônia”.
Texto: José Gadelha
Fotos: Adrhyan Araújo