Pós-graduação em Biologia Experimental, da Unir, passa para o formato associativo com a Fiocruz Rondônia

Ao completar 20 anos de existência, o PPGBIOEXP passa a ser oferecido em formato “associativo” entre a Fundação Universidade Federal de Rondônia (Unir) e a Fiocruz. Com a mudança, novos investimentos poderão ser realizados em pesquisa representando mais oportunidades para a pós-graduação e formação de recursos humanos.

terça-feira, 13 de julho de 2021 |

O Programa de Pós-graduação em Biologia Experimental (PPGBIOEXP) da Fundação Universidade Federal de Rondônia (Unir) passa a ser oferecido, a partir de agora, no formato associativo com a Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz Rondônia. Os ajustes iniciais necessários à inclusão do Programa em associação já foram realizados e concluídos na Plataforma Sucupira e sistemas correlatos na Capes. A solicitação para a mudança no Programa iniciou em 2019, em comum acordo entre as duas instituições (Unir e Fiocruz Rondônia), contando com interlocução da Coordenação Geral de Educação da Fiocruz, vinculada à Vice-presidência de Educação, Informação e Comunicação (VPEIC) e Unir, e representa o reconhecimento ao trabalho desenvolvido na área da pesquisa em saúde e formação de recursos humanos, há mais de duas décadas no estado de Rondônia, por essas instituições.

De acordo com o coordenador da Fiocruz Rondônia, Jansen Fernandes de Medeiros, que iniciou juntamente com o professor Gabriel Eduardo Melim Ferreira  os encaminhamentos junto à Capes, essa mudança irá trazer inúmeros benefícios para a pesquisa científica na Amazônia e, consequentemente, para o desenvolvimento da região pois novos investimentos poderão ser aplicados por meio da destinação de recursos para pesquisa e “cotas de bolsas”, desta forma, ampliando as oportunidades aos estudantes da pós-graduação e estimulando a inserção de novos pesquisadores nas áreas de abrangência do PPGBIOEXP.

Laboratório de Imunologia Celular Aplicada à Saúde

Atualmente, a Pós-graduação em Biologia Experimental conta com 14 professores credenciados, sendo que 12 são pesquisadores efetivos da Fiocruz Rondônia e colaboram com o Programa. A vice-coordenadora de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz Rondônia, Deusilene Vieira, destacou o engajamento da instituição frente aos constantes desafios da pesquisa no extremo Norte do país, e enfatizou que “este novo momento da Pós-graduação em Biologia Experimental é uma conquista que pode ser celebrada por toda a sociedade rondoniense, principalmente se considerarmos que os nossos egressos passam a atuar também na formação de novos indivíduos e na pesquisa, além de ocuparem outros cargos importantes no contexto da saúde pública”. O vice-reitor da Unir, Juliano Cedaro, que em 2019 quando começaram as tratativas atuava como diretor do Núcleo de Saúde, enfatizou que nesse momento as parcerias entre Unir e Fiocruz Rondônia estão ainda mais fortalecidas, o que garantirá a ampliação das pesquisas, ingresso de mais alunos e “o reforço nas publicações de alto impacto, com isso, a meta é que na próxima avaliação quadrienal da Capes, teremos o primeiro programa de pós-graduação de Rondônia com nota 5, aproximando-se da condição de um curso de excelência, em termos internacionais”.

Passos iniciais da Pós-graduação

A Pós-graduação em Biologia Experimental da Unir teve seus passos iniciais ainda no fim da década de 1990. Período que coincide com a chegada de pesquisadores da USP a Rondônia, para desenvolverem pesquisas sobre malária. Desde a década de 1980, o estado vinha enfrentando uma enorme epidemia da doença. Participaram dessa mobilização, os pesquisadores Luiz Hildebrando Pereira da Silva, que dirigia o Laboratório de Parasitologia Experimental do Instituto Pasteur de Paris, Erney Plessmann de Camargo e Henrique Krieger, do Departamento de Parasitologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB-USP), além de jovens pesquisadores como Luís Marcelo Aranha Camargo, Marcelo Urbano Ferreira, Fabiana Piovesan Alves, Mauro Shugiro Tada, Juan Miguel Villalobos-Salcedo e as geneticistas Vera Engracia Gama de Oliveira e Maria Manuela Fonseca Moura. Ao instalar-se em Porto Velho o Centro de Pesquisa em Medicina Tropical (Cepem), em 1995, este tornou-se um dos principais ancoradouros de massa crítica na área da pesquisa em doenças tropicais na Amazônia, colaborando de forma decisiva com a construção do Instituto de Pesquisas em Patologias Tropicais (Ipepatro), no fim da década de 1990.  Instituto que incorporou em 2009 o Escritório Técnico da Fiocruz Rondônia.

De um lado, tornava-se evidente a necessidade de se desenvolver a formação avançada de mestres e doutores e criar estrutura adequada para a formação local desses pesquisadores. No entanto, a formação via USP não criava mecanismos e estruturas suficientes para o recrutamento e permanência de jovens interessados em cursos de Mestrado. Por meio de concurso, a Universidade Federal de Rondônia abriu vagas para disciplinas básicas da Biologia e Medicina, tendo sido aprovadas para assumir as disciplinas de Genética e Biologia Geral as geneticistas Vera Engracia e Maria Manuela, assim como o pesquisador Juan Miguel Villalobos-Salcedo, na disciplina de Parasitologia, já integradas ao Cepem. Com isso, foi encaminhada à Capes, pela Unir, a solicitação de um Programa de Pós-graduação em Biologia Experimental, tendo sido aprovada em 2000 e a sua instalação ocorrida no ano seguinte, com abertura da primeira turma de Mestrado contando com 30 candidatos aprovados, de um total de 73 candidatos inscritos. A professora Vera Engracia assumiu as funções de coordenadora da formação e manteve-se no cargo durante dez anos.

Fernando Zanchi – pesquisador em Saúde Pública e docente do PPGBIOEXP

Ao longo desses vinte anos de existência, foram formados pelo PPGBIOEXP, em colaboração com a Fiocruz Rondônia, cerca de 160 mestres e 60 doutores e parte significativa desses pesquisadores atua na região, seja em universidades, instituições de pesquisa ou órgãos de governo. Fernando Zanchi, pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz Rondônia e docente do PPGBIOEXP, foi um dos selecionados na primeira turma de mestrado aberta pelo Programa. Segundo ele, muitas possibilidades surgiram a partir da pós-graduação, “se já no início de sua implantação foi possível amenizar os impactos da desigualdade científica, gerando a grande maioria da massa pensante e atuante no Estado nas áreas de epidemiologia e controle de doenças parasitárias e virais, além de prospecção para novas terapias partindo da biodiversidade da região amazônica, agora, com a oficialização, pela Capes, do modelo associativo entre Unir e Fiocruz Rondônia, este pode ser considerado um acontecimento histórico a ser rememorado pelas futuras gerações”, destacou Zanchi.

Após cinco anos interagindo com o PPGBIOEXP-Unir, por meio de um acordo de cooperação institucional firmado em 2016 com a Fiocruz Rondônia, a Pós-graduação em Biologia Experimental, com base na Portaria Nº 214, de 27 de outubro de 2017 publicada pela Capes, recebeu parecer favorável à reestruturação para o formato associativo pela Diretoria de Avaliação da Capes. Processo que contou com forte apoio das instâncias superiores das IES envolvidas (Unir e Fiocruz Rondônia), bem como da Coordenação da Área CBIII. Com isso, ampliam-se oficialmente as perspectivas de desenvolvimento do ensino e pesquisa em saúde na região Norte do país, com novas possibilidades de aporte de recursos e cooperações com outras unidades de ensino e pesquisa da Fiocruz e suas redes. “Nossa região é marcada por desigualdades acadêmicas e socioeconômicas, e em um momento extremamente delicado para a pesquisa e a saúde dos brasileiros, o fortalecimento do PPGBIOEXP – Unir/Fiocruz Rondônia é um marco para a nossa comunidade”, finalizou o vice-coordenador do Programa, Gabriel Eduardo Melim Ferreira, que é chefe do Laboratório de Epidemiologia Genética da Fiocruz Rondônia.

Texto: José Gadelha

Fotos: José Gadelha