Com uma capacidade atual de produzir até 20 mil mosquitos por mês, a Plataforma de Produção e Infecção de Vetores de Malária (PIVEM), da Fiocruz Rondônia, vem se consolidando como referência em estudos com foco na prevenção, detecção e combate à malária na região Norte do país, considerada área endêmica para a doença.
Atualmente, a plataforma possui infraestrutura e profissionais com experiência para atuar na produção em massa de três espécies de anofelinos: Anopheles darlingi, Anopheles deaneorum e Anopheles aquasalis, bem como, na infecção dessas espécies de mosquitos com o protozoário Plasmodium vivax, principal agente causador de malária no Brasil.
O ciclo de vida dos mosquitos na colônia é de 15 a 20 dias, o que compreende toda a fase de desenvolvimento do mosquito – de ovo a adulto. Uma das vantagens de se ter uma colônia é exatamente a possibilidade de permitir aos pesquisadores realizarem estudos a partir dos diferentes estágios de vida do mosquito (ovo, larva, pupa e adulto). A reprodução dos mosquitos, em laboratório, acompanha o ritmo e necessidade das pesquisas e experimentos em andamento.
Na 53ª geração, colônia possui atualmente cerca de 12.400 mosquitos, em diferentes estágios de reprodução.
Dentre os objetivos da plataforma, está a investigação de compostos químicos que tenham apresentado alto poder de inibição do desenvolvimento do Plasmodium em estudos in vitro. Ao testar o potencial desses compostos no bloqueio da infecção do Plasmodium nos mosquitos da PIVEM, será possível avançar mais um passo na proposição de novos medicamentos que sejam eficientes no tratamento e no bloqueio da transmissão da malária, acreditam os pesquisadores. Para isso, segundo Maisa da Silva Araújo, responsável técnica pela plataforma,
mosquitos da colônia são infectados artificialmente com o sangue de pacientes voluntários, diagnosticados com malária. Então, é formado um grupo controle com mosquitos infectados, sem o potencial medicamento, e um segundo grupo com sangue infectado e com o composto químico. Após o tempo de desenvolvimento do parasita nesses mosquitos, é possível analisar se houve transmissão da malária para os mosquitos do experimento e, assim, avaliar a eficácia do medicamento utilizado”.
Os resultados da pesquisa demonstram uma maior intensidade no desenvolvimento do parasita no grupo de mosquitos que foram infectados sem o composto químico (grupo controle), diferentemente do segundo grupo (chamado de grupo teste), que demonstrou baixo desenvolvimento no número de parasitas. Conforme a pesquisadora, os medicamentos disponíveis atualmente são, principalmente, para tratamento dos sintomas da malária, o que justifica a necessidade de estudos que enfoquem numa possível descoberta de substâncias com alto poder de inibição da ação infectante do parasita no mosquito vetor, o que levaria ao bloqueio da transmissão da malária.
Nesse sentido, em um dos estudos da plataforma, participantes voluntários diagnosticados com malária e que fazem acompanhamento no Centro de Pesquisa em Medicina Tropical (Cepem), vêm sendo monitorados, antes e depois do início do tratamento antimalárico preconizado pelo Ministério da Saúde. As infecções experimentais, realizadas em laboratório com os mosquitos vetores, e os resultados obtidos estão fornecendo dados mais precisos acerca do tempo de ação bloqueadora dos fármacos utilizados no tratamento dos pacientes, sendo esse um passo importante para elucidar em que momento do tratamento, especificamente, ocorre o bloqueio da transmissão do homem para o vetor.
Outro foco de estudos da plataforma busca compreender os fatores associados à transmissão e prevalência da malária, em áreas de assentamentos e populações rurais, grupos mais vulneráveis à doença. Neste caso, ações educativas são realizadas em comunidades que participam desses estudos, como forma de dar retorno aos moradores sobre os resultados obtidos com as pesquisas e promover ações educativas sobre a prevenção da malária, sobretudo, nessas regiões.
O pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz Rondônia, Jansen Fernandes de Medeiros, responsável pelo Laboratório de Entomologia explica que “para garantir um tratamento eficiente para a população e impedir o surgimento de novos casos é parte desse caminho o controle da malária em nossa região”.
De acordo com dados do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica (SIVEP – Malária) do Ministério da Saúde, foram registrados, em Rondônia, 14.412 casos de malária em 2021, contra 11.801 casos da doença no decorrer de 2020, sendo a maioria na capital – Porto Velho.
Atualmente vinculada ao Laboratório de Entomologia da Fiocruz Rondônia, a Plataforma de Produção e Infecção de Vetores da Malária é um projeto com financiamento do CNPq/MS-SCTIE-MS-Decit/Fundação Bill & Melinda Gates e do Programa International Center of Excellence for Malaria Researsh (ICEMR). Tais financiamentos têm como objetivo acelerar as pesquisas na prevenção, detecção e no combate à malária.
Fotos: Xiomara Gaitan/PIVEM/José Gadelha
Texto: José Gadelha