Indígenas de Guajará-Mirim e Nova Mamoré são atendidos com testes rápidos para Covid-19

Áreas visitadas ficam localizadas na região de fronteira com a Bolívia. Profissionais que atuam na assistência à saúde indígena precisam enfrentar longas distâncias para chegar às aldeias. Em alguns casos, o deslocamento demora até cinco dias de barco, durante o período seco.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020 |

Indígenas de oito aldeias, localizadas nos municípios de Guajará-Mirim e Nova Mamoré, região de fronteira com a Bolívia, foram atendidos em mais um mutirão realizado pela Fiocruz RO.

A ação contou com parceria do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei/Porto Velho), e Casa de Saúde Indígena (Casai/Guajará-Mirim), dando continuidade aos trabalhos que já vêm sendo desenvolvidos em comunidades indígenas de Rondônia e estados vizinhos, no enfrentamento da Covid-19. Em cinco dias, foram realizados 593 testes rápidos para a detecção do vírus SARS-CoV-2 na população visitada. Os casos considerados suspeitos são encaminhados para acompanhamento dos profissionais que atuam na saúde indígena.

Atualmente, a Casai de Guajará-Mirim é responsável pelo atendimento de 60 aldeias, o que corresponde a cerca de 7 mil indígenas, distribuídos nessas duas cidades (Guajará-Mirim e Nova Mamoré).

Com o surgimento da pandemia, provocada pelo novo coronavírus, as dificuldades na assistência à saúde indígena se agravaram, “foi preciso reforçar o nosso trabalho com a contratação de uma equipe de resposta rápida, para fazer o acompanhamento presencial, e oferecer um atendimento individualizado nas aldeias”, pontua José Lemos, enfermeiro e coordenador técnico da Casai de Guajará-Mirim.

Segundo ele, uma das principais dificuldades é a distância de algumas localidades, como é o caso da aldeia Ricardo Franco que faz fronteira com a Bolívia e a equipe leva 10 horas de viagem de barco para chegar ao destino. Já a aldeia São Luiz, que fica localizada às margens do rio Pacaás Novos, representa outro grande desafio. Durante a estiagem, a equipe leva até 5 dias para chegar ao local. No período chuvoso, o mesmo percurso pode ser feito em até 7 horas de barco.

Aldeias visitadas ficam na área de fronteira com a Bolívia

De acordo com o presidente do Conselho Local de Saúde Indígena, Edmilson Oro Waram Xijein, a população indígena foi pega de surpresa com a pandemia e “esse trabalho realizado em parceria com a Fiocruz Rondônia nos ajuda a compreender como está o avanço do vírus em nossas aldeias e, ao mesmo tempo, indica para as autoridades responsáveis pela saúde indígena os caminhos que devem ser adotados em atenção à nossa realidade”, argumenta o líder indígena.

Dados oficiais da Casai/Guajará-Mirim informam que desde o começo da pandemia, 700 indígenas de Guajará-Mirim e Nova Mamoré contraíram a Covid-19, e um óbito foi registrado na aldeia Mangueira, região do rio Mamoré. Edmilson Xijein relata que essa é uma das localidades que geram maior preocupação, tendo em vista o aumento de novos casos e espera que novas iniciativas, como esta da Fiocruz RO, possam contemplar a população indígena dessas localidades.

A pesquisadora em Saúde Pública da Fiocruz RO, Deusilene Vieira, chefe do Laboratório de Virologia Molecular, que coordenou o mutirão, informa que outras aldeias indígenas de acesso fluvial serão visitadas no início do próximo semestre, na região de Guajará-Mirim. “Esse é um compromisso social que assumimos e a nossa missão é promover a assistência à saúde também dos povos indígenas, principalmente nesse contexto da pandemia em que estamos vivendo”, finaliza Deusilene Vieira.

A ação da Fiocruz RO contou com a participação das colaboradoras Alice Sabatino do Controle de Qualidade, a enfermeira e tecnologista em Saúde Pública Simone Mendes, e Vanessa Modesto do Laboratório de Virologia Molecular.

Texto: José Gadelha

Fotos: Casai/Guajará-Mirim