Fiocruz inicia primeira turma de Mestrado em Educação Profissional em Saúde de Rondônia

Aulas presenciais acontecem no Hospital Regional de Cacoal (HCR), localizado na 2ª macrorregião de saúde de Rondônia, área que reúne 34 municípios e população estimada em mais de 730 mil habitantes, conforme o IBGE.

quinta-feira, 14 de setembro de 2023 |

A Fundação Oswaldo Cruz, por meio da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), em cooperação com o Centro de Educação Técnico-Profissional na Área da Saúde (Cetas/Sesau), deu início em Rondônia a uma turma especial de Mestrado em Educação Profissional em Saúde (PPGEPS), a primeira no estado.

O curso é oferecido na modalidade híbrida (aulas presenciais e remotas), totalizando 24 meses de duração, incluindo as etapas de qualificação e defesa de dissertação. As aulas presenciais acontecem no Hospital Regional de Cacoal (HCR), município localizado a 478 km de Porto Velho-RO. Encontros teóricos complementares serão realizados remotamente, no decorrer das atividades.

A escolha pelo município de Cacoal foi uma decisão coletiva entre a Fiocruz, em Rondônia, e a Secretaria Estadual de Saúde, por meio do Cetas, e contempla uma crescente demanda por cursos de mestrado e doutorado em áreas prioritárias como a saúde em regiões mais distantes, como é o caso de estados da Amazônia, sendo que a distância geográfica representa um dos principais entraves aos candidatos que sonham com a formação em cursos de pós-graduação, como revela a enfermeira Flávia Xavier. Ela coordena, atualmente, o Núcleo de Educação Permanente (NEP) do Hospital Regional de Cacoal, e conhece de perto as necessidades de região.

Aqui no NEP, nós sabemos da importância do fortalecimento da Política Nacional de Educação Permanente nas instituições de saúde para a melhoria das práticas de cuidado aos pacientes. Também temos um programa de residência médica e residência multiprofissional com poucos mestres, por isso a necessidade de termos um mestrado voltado à área da saúde no interior do estado”,

revelou Flávia.

Para ela, “esta é a realização de um sonho pessoal e de muitos outros colegas que sofrem com as limitações impostas pelas barreiras geográficas, o que acaba inviabilizando o ingresso em um curso de pós-graduação”.

O Hospital Regional de Cacoal está localizado na 2ª macrorregião de saúde do estado reunindo 34 municípios, 16 cidades a mais que a 1ª macrorregião. De acordo com o IBGE-2022, tem uma população estimada em 735.773 habitantes,

diante dessa expressividade, o que tem gerado demandas importantes no contexto da saúde pública, é que decidimos concentrar em Cacoal as atividades presenciais deste curso de mestrado. Assim, a Fiocruz amplia a sua presença em território nacional, descentralizando a sua capacidade formativa para regiões muito carentes em termos de qualificação dos profissionais que atuam na saúde, abrindo novas possibilidades para o desenvolvimento da pesquisa em saúde na Amazônia, com resultados que poderão ser percebidos no cotidiano de trabalhadores e pacientes do Sistema Único de Saúde”,

pontuou Jansen Fernandes de Medeiros, coordenador da Fiocruz em Rondônia.

Proposta inovadora

Atividade de vivência em aldeia do povo indígena Paiter-Suruí (Cacoal-RO) abordou a memória, a cultura e a organização comunitária local, para compreender o movimento de resistência dos povos indígenas diante da ocupação territorial, do desmatamento e transformação dos ecossistemas locais. Foto: EPSJV-Fiocruz

A proposta de trazer para Rondônia o Mestrado em Educação Profissional em Saúde tomou corpo em 2022 e resultou na assinatura de um Termo de Cooperação Técnica entre a Fiocruz e o Cetas. O passo seguinte foi elaboração de Chamada Pública Especial para a seleção de candidatos que fizessem parte do quadro efetivo de servidores da saúde. Ao todo, foram abertas 25 vagas, com candidatos selecionados de diferentes municípios de Rondônia.

Marcela Milrea Araújo Barros, que está à frente da Política Estadual de Educação Permanente e coordena o mestrado, em Rondônia, acredita que “este curso vem ao encontro das necessidades de qualificação profissional descritas no Planejamento Estadual de Educação em Saúde (PES), que tem como uma de suas prioridades a consolidação das ações de educação permanente e continuada”.

Segundo ela, estão previstos 5 momentos de encontros presenciais, que vão se alternar em períodos de 45 e 60 dias em média. As aulas presenciais iniciaram em agosto (2023) e contam com professores da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio – Fiocruz. No quadro de disciplinas, estão inclusos tópicos como Políticas de Educação e Saúde; Territorialização; Seminários Interdisciplinares I e II; Economia da Educação e concepções em saúde; Educação Profissional no Brasil: contextos e questões atuais.

Para AnaKeila Stauffer, coordenadora adjunta e docente do PPGEPS, a iniciativa é inovadora e uma novidade para os docentes na medida em que a formação propicia novos diálogos com dimensões tão específicas da saúde, em contextos muito diversos. Ela explica que o Programa já teve experiências de formações com mestrandos de distintas regiões do Brasil. Contudo, é a primeira vez que iniciam uma turma no próprio território demandante, possibilitando que a formação possa ser refletida sobre o próprio chão em que se pisa. E esse chão se dá, predominantemente, em hospitais.

É relevante destacar também a dimensão da pesquisa, visto que formaremos novas pesquisadoras e pesquisadores que estarão indagando a própria prática em saúde e construindo conhecimento a partir deste território. Compreendemos, portanto, que educandos e educadores, assim como dizia Paulo Freire, se educam continuamente. Entendemos que esse processo é fundamental para a qualificação dos profissionais do SUS – missão da EPSJV, em seus 38 anos de história.”

concluiu a pesquisadora.

Texto: José Gadelha