Evento discute os desafios da mulher negra e maior participação em espaços estratégicos

Encontro comemorou o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha. A data, que é celebrada em 25 de julho, faz uma homenagem a Tereza de Benguela, liderança quilombola, exemplo de força e resiliência para milhares de mulheres que sobreviveram às mazelas da colonização.

quinta-feira, 27 de julho de 2023 |
Fiocruz Rondônia e Cetas/Sesau se unem para a realização de evento em alusão ao 25 de julho. Foto: José Gadelha

Em alusão ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, celebrado em 25 de julho, a Fiocruz Rondônia e o Centro de Educação Técnica e Profissional da Área da Saúde (Cetas/Sesau-RO) promoveram um encontro cultural e de muita reflexão sobre a luta da mulher negra nos espaços da Saúde, na Educação, do Empreendedorismo e outras áreas estratégicas. A ação ocorreu no Cetas, em Porto Velho-RO, e faz parte de um conjunto de iniciativas apoiadas pela Coordenação de Equidade, Diversidade, Inclusão e Políticas Afirmativas (Cedipa) da Fiocruz, que busca a consolidação de uma agenda voltada aos temas étnico-raciais e de gênero em suas unidades e escritórios técnicos, como é o caso da Fiocruz RO.

A coordenadora pedagógica do Cetas, Sandra Borges Moraes, destacou a relevância da data para que sejam discutidas novas iniciativas que contemplem a mulher negra, em diferentes setores da sociedade, e reforçou a importância da acessibilidade a políticas públicas. Formada em Pedagogia, Sandra relembrou os desafios que precisou enfrentar para realizar o sonho da graduação e enfatizou a trajetória de violência e preconceito que acompanha a história da mulher negra. Segundo ela,

são essas memórias que nos estimulam a buscar formas de estarmos nos reinventando diariamente, e nos ajudam a compreender o real sentido da nossa história de vida e lutas, sempre em prol de conquistas coletivas para todas as mulheres, independentemente da cor da pele, religião, grau de escolaridade e ideais”.

Sandra informou que o evento ocorreu em conformidade com o Programa Nacional de Equidade de Gênero, Raça e Valorização das Trabalhadoras no Sistema Único de Saúde – SUS, coordenado pelo Cetas em Rondônia.

O evento oportunizou ainda o debate sobre as altas taxas de homicídio feminino e feminicídio (assassinato de mulheres cometidos em razão do gênero) provocadas no Brasil e na região Norte, especificamente. De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2023), a região Norte é a segunda do país em feminicídios, considerando o número de casos para cada 100 mil mulheres. Quando o recorte é por estados da federação, é em Rondônia que se concentram as maiores taxas do país, tanto de feminicídios (3,1 por 100 mil), quanto de homicídios femininos (11,2 por 100 mil). Entre as vítimas de feminicídio em 2022, 61,1% eram negras aponta o estudo.

Fonte: 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

Para Itaci Alves Ferreira, que coordena na Secretaria Municipal de Saúde (Semusa – Porto Velho), o programa de Vigilância das Violências, a mulher negra está muito mais exposta a todos os tipos de violência seja física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. Neste cenário, segundo ela,

é preciso aperfeiçoar o diálogo entre as instituições, de forma que sejam mobilizadas forças intersetoriais, só assim poderemos alcançar uma rede sólida de identificação do problema e de proteção e atenção às mulheres vítimas de violência, em especial a mulher negra”.

Essa foi a primeira vez que as duas instituições, Fiocruz Rondônia e Cetas/Sesau, se uniram para a realização de um evento em alusão ao 25 de julho. Najla Matos, pesquisadora em Saúde Pública da Fiocruz RO, comentou o histórico de luta contra o machismo e a desigualdade de oportunidade para a mulher negra em espaços considerados privilegiados da sociedade, como a ciência. Na Fiocruz RO, Najla coordena o Laboratório de Microbiologia e está à frente de uma equipe de 13 estudantes (entre técnicos, iniciação científica, alunos de mestrado e doutorado), contribuindo para a formação de uma nova geração de cientistas.

Precisamos fazer ecoar esse grito da mulher preta, exatamente onde ela estiver, com seus desafios e aspirações. É preciso valorizar essa luta e que esse aprendizado de hoje possa ser levado para outros lugares, onde cada uma de nós estiver”,

acentuo Najla Matos. 

A programação contou ainda com as convidadas Luanda Melo dos Santos que é bacharel em Direito, empreendedora Afro e especialista em cabelos Afro; Joyse Cunha Pereira, empresária atuando no segmento de dança e a cabeleireira haitiana Love Biverlie Petit Frere que falaram de suas trajetórias pessoais e experiências no campo profissional.

Texto: José Gadelha