Entrevista: Médico infectologista esclarece dúvidas da população sobre o novo coronavírus

Entrevista foi realizada no Centro de Pesquisa em Medicina Tropical (Cepem/RO). Juan Miguel Villalobos-Salcedo falou sobre sintomas, prevenção, transmissão e outros assuntos de interesse de toda a população.

quarta-feira, 25 de março de 2020 |

Com a pandemia do novo coronavírus, é necessário que toda a população fique atenta ao acúmulo de informações equivocadas que circulam nas redes sociais e em sites de notícias, não oficiais. Para orientar a sociedade sobre o novo coronavírus e esclarecer algumas dúvidas, o médico infectologista do Centro de Pesquisa em Medicina Tropical (Cepem), Juan Miguel Villalobos-Salcedo, pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz RO, falou sobre sintomas, transmissão, prevenção e outros assuntos. Confira a entrevista e ajude a propagar informações corretas.

Um dos sintomas apontados por especialistas como característicos do novo coronavírus é a dificuldade respiratória. Como identificar este sintoma?

Sobre a falta de ar, é importante lembrar quando uma pessoa faz caminhada, ou exercícios físicos e após o exercício fica ofegante, então respira mais rápido e sente falta de ar. Se essa falta de ar acontece em repouso, ou quando o paciente caminha poucos metros, aí já implica num sintoma importante que precise de cuidados especiais e avaliação médica, principalmente, neste contexto em que estamos vivendo.

Além da dificuldade respiratória, quais sintomas também devem ser encarados como um sinal de alerta?

Em geral, todo sintoma que implique em piora do estado geral. Os sintomas leves são aqueles comuns de gripe, tosse seca, mas sem falta de ar importante. Qualquer sintoma que de um dia para o outro leve à piora do estado de saúde, deve ser encarado como sinal de alerta.

É possível que uma pessoa seja infectada mais de uma vez pela Covid – 19?

Os estudos são muito precoces para termos uma ideia dessa imunidade contra a Covid – 19 e uma imunidade duradoura. Temos dados ainda insuficientes. Se seguir o mesmo padrão de outros problemas respiratórios como influenza, por exemplo, H1N1 ou o próprio Sars, são dados que nos levam a pensar em uma imunidade que tende a ser permanente, portanto, o paciente adquiriria a infecção uma vez, evoluindo para a cura provavelmente. Essa imunidade é duradoura e permanente, prevenindo o paciente contra reinfecções pelo mesmo vírus.

Existe alguma possibilidade de o vírus entrar pelo ar, principalmente, nos casos em que somos todos orientados a deixar portas e janelas abertas?

É importante salientar que o vírus não voa, e não se mantém em suspensão no ar. As gotículas que os pacientes portadores do vírus emitem, geralmente, são de um tamanho o suficiente para avançarem entre um metro e até dois metros, e caem nas superfícies, no solo, podendo ficar em maçanetas, escrivaninhas, e superfícies diferentes. Sobre a permanência do vírus nessas superfícies, tem diferentes estudos que indicam tempos também variados, mas o importante é sempre que se tenha contato com essas superfícies, ter todo o cuidado de lavar bem as mãos. Portanto, portas e janelas abertas não são um perigo para o vírus entrar em casa, pelo contrário, quanto mais arejada a área melhor, porque se concentram menos partículas aéreas em suspensão.

Circulam muitas mensagens nas redes sociais afirmando que o novo coronavírus não sobrevive em regiões mais quentes. O que o senhor tem a dizer sobre isso?


Depende do calor que estamos falando. Este é um vírus que, pelos estudos mostrados até agora, entre 25 e 28 graus, mantém a sua estrutura durante algumas horas e quanto maior a umidade, melhor também para ele sobreviver. Mas quando falamos de vírus, temos que ter muito cuidado com essa palavra “sobreviver”, porque os vírus são partículas inertes, diferentes de uma bactéria, ou um protozoário. Então, o que nós falamos é sobre a integridade do vírus. E como nós estamos fazendo os testes de detecção por meio de biologia molecular, detectamos o material genético do vírus, mas não temos ainda cientificamente comprovado que esse material genético seja necessariamente infectante. As evidências nos levam a pensar que sim, mas estudos ainda precisam ser feitos, pois não sabemos, de fato, como a epidemia se comporta em diferentes climas e graus de umidade, e diferentes circunstâncias também. Isso nós só poderemos aprender in loco, no momento em que acontecer uma epidemia com transmissão comunitária, já comprovada. É aí que nós iremos ver como esse vírus se comporta.

Consumir mais líquidos é uma medida eficaz na prevenção do novo coronavírus?

Líquidos são muito importantes para manter a boa hidratação do organismo e essa boa hidratação se traduz em diferentes formas que a defesa natural do organismo trabalha. Então, as mucosas respiratórias de nariz e garganta precisam estar umidificadas para que os mecanismos de defesa, como o batimento ciliar e a camada de muco que protege a superfície estejam íntegros. Quanto mais se mantém essa integridade, melhor será a defesa do nosso organismo. Vale lembrar que em regiões que possuem diferentes estações e, especificamente, no inverno em que as pessoas ficam muito mais restritas, por conta da umidade, as mucosas ficam mais expostas a adquirir diferentes patologias.

O que podemos dizer sobre a vacina contra o novo coronavírus? É possível falar em prazos?

Sobre o tratamento desses pacientes, é importante dizer que o Conep (Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde), aqui no Brasil, liberou esquemas de tratamento de pacientes graves, e aí nós poderemos ver como esses pacientes se comportam nos protocolos, para que depois esses medicamentos possam ser usados com segurança, isso é o mais importante para que ninguém venha se automedicar. Em relação a vacina contra o novo coronavírus, pensamos a longo prazo, ou seja, consideramos um tempo de até um ano ou mais. No entanto, os estudos de protocolos de medicamentos podem ser adquiridos e podem ser incorporados à nossa realidade mais rapidamente.

Fotos: José Gadelha/Fiocruz Imagens