No dia 19 de janeiro de 2023, os rondonienses comemoram dois anos da chegada do primeiro lote de vacinas contra a Covid-19 ao estado.
Rondônia foi o último estado brasileiro a receber a vacina contra a Covid-19. O voo com 49 mil doses da CoronaVac pousou na Base Aérea de Porto Velho no dia 19 de janeiro de 2021.
De acordo com o último Boletim divulgado pela Agência Estadual de Vigilância em Saúde (Agevisa) foram contabilizados até o dia 23 de janeiro de 2023 7.418 mortes provocadas pela Covid-19.
Para comentar sobre este momento, nós conversamos com o médico infectologista Juan Miguel Villalobos-Salcedo, pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz Rondônia. Acompanhe a entrevista.
O senhor esteve na linha de frente, desde o início da pandemia de Covid-19, atendendo pacientes, demandas da imprensa que chegavam a todo instante e atuando em outras frentes de trabalho. Que análise o senhor faz deste momento atual?
A análise que podemos fazer, eu acredito é que sempre caímos naquela armadilha de esquecer rapidamente o passado. Dois anos atrás, estávamos no caos e na crise, estávamos sem leitos, estávamos sem UTIs, estávamos desesperados.
E, hoje, estamos numa situação completamente diferente. E essa situação diferente não significa que a pandemia acabou. Significa que conseguimos controlar de maneira eficaz a transmissão para um limite de transmissão aceitável, que nos permita tratar as pessoas sem aquele caos e aquela situação terrível do passado.
Qual o motivo principal desta mudança?
Não tenhamos dúvida que foi a vacinação. Não foram medicamentos sem comprovada eficácia, não foram outras medidas. Mais do que a vacinação, o isolamento social e o uso das máscaras nos protegeram durante um tempo importante, como uma medida adicional a imunidade coletiva que criamos com a vacinação. É importante dizer para a população que, por favor, precisamos completar os esquemas de vacinação. Eu atendo todos os dias pacientes aqui no hospital e quando a gente pergunta para muitos pacientes como está seu esquema, muitos pacientes tem esquema não completo, esquema completo significa duas doses, e dois reforços hoje em dia. E é provável que isso vai mudar com o passar do tempo. E provavelmente teremos uma quinta dose, e vamos ter uma dose anual de reforço, para manter essa imunidade coletiva que conseguimos obter, graças a vacinação.
Qual análise o senhor faz sobre os primeiros pacientes infectados a receber a vacina, passados esses dois anos?
Pessoas não imunizadas ou com imunização incompleta tendem a apresentar quadros mais delicados com evolução para gravidade e vão ser essas pessoas que precisarão de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e talvez de intubação. Mas, as pessoas com esquemas completos, quatro doses, as duas doses iniciais e as duas doses de reforço, essas pessoas tem pouquíssimas chances de agravar. Essas pessoas costumam hoje em dia passar a Covid em casa e aí sim, hoje a gente pode dizer que parece uma gripe, mas no passado não.
Então, hoje pessoas com imunização completa têm sintomas muito leves de Covid, que até parece uma gripe e precisam de acompanhamento médico. Esse é o objetivo mesmo da imunização, acabar com o enorme número e com a gravidade e que nos permita manter a Covid-19 como uma endemia, ou seja, vamos ter casos contínuos, constantes, mas sem gravidade, e com pouquíssimas mortes.
O que o senhor diria aos pais ou responsáveis de crianças não imunizadas?
Sempre nos preocupamos muito mais com as crianças, com as mulheres grávidas, com os idosos, e parece que nesta pandemia deixamos um pouco as crianças de lado porque realmente no início era um grupo populacional que tinha uma certa defesa em evoluir para casos graves, então eram poucas crianças que evoluíam para casos graves, mas existiam os casos graves e as mortes dentro desses grupos de crianças. Agora, temos que focar nele, porque são as crianças o grupo prioritário para muitas doenças. O foco nas crianças é realmente para imunização e vai chegar o momento de uma imunização ampliada para todas as crianças. Eu pessoalmente recomendo a imunização de todas as crianças, levei meus filhos para vacinar, já temos as doses completas, aquele que está com menos de três anos e acabou de ser liberada, ele pode ser o foco de nós tentarmos completar esse grupo prioritário para estar vacinado e para eles ajudarem dentro da sociedade, daquilo que chamamos de imunidade coletiva. Se todos estiverem imunizados a imunidade coletiva nos protege da transmissão certamente.