Dois novos casos da doença de Chagas, registrados em Rondônia, em menos de um mês, acendem um alerta para os cuidados que a população deve ter com a presença do barbeiro, em áreas urbanas, e para as ações de controle e diagnóstico da doença, pelo estado e municípios. Além disso, são necessários mais investimentos em pesquisas e recursos humanos, para que se tenham novos avanços nessa área, especificamente, em nossa região amazônica.
De acordo com Mauro Tada, doutor em Biologia Experimental e diretor geral do Cepem (Centro de Pesquisa em Medicina Tropical), os investimentos são escassos, o que coloca a doença de Chagas na relação de doenças negligenciadas, podendo, inclusive, comprometer o diagnóstico e o tratamento de pacientes. “Quando se tem uma doença que não é negligenciada, há investimentos em pesquisas e chega-se a novos medicamentos. Aqui no Brasil, nós estamos há décadas e décadas com essa doença, e o medicamento utilizado é o mesmo, desde que ela foi descoberta pelo médico Carlos Chagas”, salientou.
O principal causador da doença de Chagas é o parasita Trypanosoma cruzi, presente nas fezes do barbeiro. A transmissão por via oral, através do consumo de alimentos contaminados, com as fezes do inseto, ocorre predominantemente na região amazônica. Nesta forma de contaminação, o inseto pode ser triturado com frutos de açaí, ou outros alimentos sem ser percebido, “e dentro do inseto existe uma quantidade enorme de parasitas. Por isso, é uma questão de higiene ao preparar o produto. É ainda uma questão de informação”, reforça Mauro Tada.
Outra forma de transmissão da doença, que também tem sido observada, na região, é pelo contato direto com o inseto infectado. Durante a picada, o barbeiro pode defecar no corpo da vítima, e ao coçar o local atingido, pode ocorrer a transmissão pela corrente sanguínea.
Diagnóstico e tratamento
Mauro Tada destaca que o aperfeiçoamento do diagnóstico pode ajudar a combater o aumento dos índices da doença. Na maioria dos casos, o paciente acaba confundindo a doença de Chagas com a malária, por apresentar sintomas parecidos, como dores no corpo, e nos olhos, febre, mal-estar e dor de cabeça. No caso mais recente, registrado, em Porto Velho, o paciente, um adolescente de 14 anos, buscou atendimento no CEMETRON (Centro de Medicina Tropical de Rondônia), com suspeita de malária. Após realização de exames, o diagnóstico de doença de Chagas, em fase aguda, foi confirmado. Daí a importância de profissionais preparados, em casos como este, especificamente, o diagnóstico é possível desde que se esteja procurando a doença de Chagas.
A detecção da doença, na fase aguda, é primordial para o tratamento pois há uma grande chance de cura para o paciente. Nos casos crônicos, não existem curas evidenciadas, sem contar que “os gastos com um paciente em que a doença progrida para a forma crônica são infinitamente maiores, do que se nós tratássemos esse paciente na fase aguda”, ressalta o pesquisador.
Texto: José Gadelha
Foto: José Gadelha e Arquivo Fiocruz RO