Crianças com Síndrome da Zika têm mais chances de morrer, aponta estudo da Fiocruz

Estudo realizado por equipe conjunta de pesquisadores é inédito sendo o primeiro a acompanhar crianças diagnosticadas com Síndrome Congênita da Zika (SCZ) até o terceiro ano de vida.

terça-feira, 15 de março de 2022 |

Estudo coordenado pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz-Bahia) apontou que o risco de morte, entre os nascidos vivos com Síndrome Congênita da Zika (SCZ), é até 11 vezes maior que o apresentado entre crianças sem a Síndrome.

O estudo foi coordenado pela pesquisadora Enny Paixão, professora assistente da London School of Hygiene & Tropical Medicine (LSHTM), que é associada do Cidacs, em conjunto com uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Fiocruz Rondônia.

Para se chegar aos resultados, foram analisados dados de 11.481.215 nascidos vivos cadastrados no Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), entre 1º de janeiro de 2015 e 31 dezembro de 2018.

Por meio de estudo de coorte retrospectivo de base populacional, os bebês nascidos foram acompanhados até completarem 36 meses (3 anos de vida), falecimento ou até a data de 31 de dezembro de 2018 (o que ocorresse primeiro). Os dados foram cruzados com informações do Registro de Eventos em Saúde Pública (Resp), tendo sido excluídos os casos de suspeita, mas que foram descartados após investigação epidemiológica, e os registros classificados como inconclusivos ou, ainda, em investigação.

Curvas de sobrevida em crianças, de até 36 meses, com Síndrome Congênita da Zika e sem Síndrome

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A amostra final de crianças com Síndrome Congênita da Zika foi de 3.308. Desse total, 398 (12%) vieram a óbito, ou seja, até os primeiros 36 meses de idade – entre os nascidos vivos com Síndrome – a taxa de mortalidade foi 11,3 vezes maior (intervalo de confiança [IC] 95%, 10,2 a 12,4), em comparação aos nascidos vivos sem a Síndrome, conforme o estudo. Dos mais de 11,4 milhões de bebês nascidos sem Síndrome Congênita da Zika, que foram acompanhados, 120.629 (1%) morreram durante a pesquisa.

Para o levantamento de dados, foram considerados os casos em que houvesse sinais e sintomas consistentes com a Síndrome, evidência laboratorial de infecção pelo vírus da Zika (a partir de testes moleculares ou sorológicos), ou se a mãe tivesse relatado febre ou erupção cutânea durante a gestação.

De acordo com Moreno Rodrigues, pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz Rondônia e integrante da equipe de pesquisadores que desenvolveu o estudo, a abordagem utilizada no trabalho abre um leque gigantesco dentro da saúde pública. Para o pesquisador,

o Brasil possui um dos melhores sistemas de informação de Saúde do mundo e a criação de coortes virtuais de base populacional utilizando esses sistemas nos permitirá estudar e entender cada vez mais sobre uma série de desfechos raros e seus determinares. É, sem sombra de dúvidas, uma contribuição de extremo valor para a saúde pública no país”.

Causas de morte identificadas

O estudo apontou ainda que, entre as crianças com Síndrome Congênita da Zika, as principais causas de morte identificadas foram doenças infecciosas e parasitárias, além de doenças do sistema nervoso e malformação congênita. As doenças do aparelho circulatório foram responsáveis por 58% mais mortes entre os nascidos vivos com Síndrome do que entre aqueles sem a síndrome. Este é o primeiro estudo que investiga a mortalidade de crianças diagnosticadas com SCZ, com acompanhamento até o terceiro ano de vida.

A pesquisa foi publicada no periódico The New England Journal of Medicine, que tem o maior impacto na comunidade científica.

Texto: José Gadelha

Imagens: Fiocruz Imagens/Fiocruz