Às margens do rio Maici (Aldeia Dudu), a indígena Potai Pirahã recebeu a primeira dose da vacina contra a Covid-19. Após 28 dias, ela deverá receber a segunda. Potai Pirahã faz parte do grupo de 713 indígenas que serão imunizados no município de Humaitá (Sul do Amazonas).
A vacinação em áreas indígenas da região iniciou nesta terça-feira (26/01), acompanhada de palestras de conscientização sobre a importância da imunização contra a Covid-19 e testes rápidos disponibilizados pela Fiocruz RO. Ao todo, 600 testes foram realizados durante o mutirão, nos dias 26 e 27 de janeiro.
Além da Fiocruz RO, participaram desta mobilização a Casa de Saúde Indígena (Casai/Humaitá), Secretaria Municipal de Saúde (Humaitá), Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi/Porto Velho), Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei/Polo Humaitá), Funai e Organização dos povos indígenas do Alto Madeira (Opiam).
De acordo com Marisa Ferreira, responsável pela Casai de Humaitá, foram disponibilizadas pelo governo do Amazonas 1.426 doses da vacina CoronaVac, que é produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac. A meta é imunizar 100% da população indígena do município, contemplando as duas doses preconizadas pelo Ministério da Saúde e a faixa etária recomendada pelo órgão, ou seja, deverão receber a vacina indígenas a partir de 18 anos.
Atualmente, a Casai Humaitá é responsável pelo atendimento a indígenas de 9 etnias, distribuídos em 16 aldeias ao longo da Rodovia Transamazônica. Uma das principais dificuldades enfrentadas por equipes de saúde é o acesso a algumas comunidades. Em muitos casos, a distância pode comprometer o atendimento em situações de emergência.
Conforme dados da Casai do município, desde o começo da pandemia, foram confirmados 192 casos de infecção por Covid-19 e um óbito, entre indígenas do Polo Base de Humaitá. Aurélio Tenharim, assessor técnico do Dsei Porto Velho e Conselho Distrital de Saúde Indígena, destacou a importância desta mobilização para o combate ao novo coronavírus em terras indígenas, “acreditamos que a presença da Fiocruz RO em nossas comunidades trazendo informações e palestras de conscientização sobre a importância da imunização nos deixa mais seguros em relação à vacina, e isso é essencial para todos nós neste momento”, declarou.
No Brasil, os povos indígenas vivem historicamente em condições de vulnerabilidade, situação que acabou sendo agravada pela pandemia. Embora o início da vacinação seja um momento histórico, “muitas de nossas comunidades já enfrentam um número bastante reduzido de sua população, como é o caso do povo Juma e Pirahã, o que nos causa temor e preocupação”, relatou, durante cerimônia de abertura da vacinação, Antônio Enésio Tenharim, coordenador da Opiam. Segundo ele, a mobilização em defesa da saúde indígena na Amazônia traz um pouco de esperança.
A pesquisadora em Saúde Pública da Fiocruz RO, Deusilene Vieira, ressaltou os avanços da ciência diante do novo coronavírus, destacando a importância da mobilização social e da participação da comunidade como grandes aliados na luta contra a doença, “nós começamos o ano de 2021 com a possibilidade de revertermos esse cenário pandêmico”, enfatizou.
Ivanildo Tenharim, presidente do Condisi – Porto Velho, foi o primeiro indígena do município a ser imunizado contra o novo coronavírus.
Texto: José Gadelha
Fotos: Deusilene Vieira e Vanessa Modesto