O Aedes aegypti é o mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya, arboviroses que registraram aumento de casos no país em 2019, considerando os dados de 2018, segundo levantamento da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS/Ministério da Saúde). Em Rondônia, a dengue é recordista em notificações, entre as três arboviroses. Em 2019, foram 2.237 casos notificados, contra 1.998 em 2018, um aumento de 11,96%, aponta o último Boletim Epidemiológico do Programa de Controle de Doenças Transmitidas pelo Aedes, do governo do estado.
No país, o método mais utilizado como ferramenta de vigilância e controle de doenças provocadas por esse vetor é o Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti (LIRAa), que surgiu em 2003, e é realizado 4 vezes ao ano. Mas uma alternativa às ações de combate ao mosquito vem se mostrando eficaz em diferentes municípios brasileiros. É o aplicativo AeTrapp, um sistema inovador que possibilita ao cidadão o monitoramento de focos e criadouros do mosquito Aedes em sua residência, e o aparelho celular é um importante instrumento para a manutenção de um banco de dados aberto à comunidade.
Por meio de uma armadilha caseira, feita com garrafas pet, tesoura, papel, fita isolante e capim, ovos do mosquito são capturados, e antes que estes ovos deem origem ao mosquito adulto, o aplicativo emite um alerta para que o morador faça a manutenção da armadilha e tire uma foto dos ovos capturados.
A ideia é detectar a presença dos mosquitos que já circulam no ambiente e fazer a retirada dos ovos antes que se desenvolvam até a fase adulta, destaca o criador do aplicativo, Oda Scatolini, biólogo, e diretor executivo do Instituto Invento, organização não governamental sem fins lucrativos que coordena o projeto atualmente. Segundo ele, com base nas imagens enviadas pelo aplicativo, um software faz a contagem automatizada dos ovos da amostra, por meio de um algoritmo de visão computacional, considerando fatores como tamanho, cor e forma do ovo.
Os dados de cada armadilha são atualizados semanalmente, e o mapa diariamente, a cada momento que um colaborador envia uma nova imagem. Tudo é disponibilizado em tempo real, por meio de um mapa online acessível ao cidadão comum e agentes públicos.
“Gerando seus próprios dados, e cientes da situação de suas casas em relação aos vizinhos, outros bairros e municípios, os moradores se tornam muito mais sensíveis e comprometidos com as atividades de combate aos mosquitos”, reforça Scatolini.
Parceria com a Fiocruz
Para que fosse implementado como um sistema de vigilância e monitoramento do Aedes aegypti, o AeTrapp passou por diferentes fases. Nos primeiros anos do projeto, foram realizadas parcerias com instituições de pesquisa como a Fiocruz no Rio de Janeiro e em Rondônia, que colaboraram com experimentos em campo e laboratório. A pesquisadora em Saúde Pública, Genimar Rebouças Julião, chefe do Laboratório de Entomologia da Fiocruz RO, explica que a nova armadilha é uma adaptação das chamadas “ovitrampas”, uma tecnologia já consolidada, mas restrita a pesquisadores e agentes de saúde.
As ovitrampas foram criadas nos anos 60, e simulam um ambiente ideal para que a fêmea de mosquitos Aedes se sinta atraída para colocar seus ovos. Por esse método, a contagem dos ovos é feita manualmente por um especialista com o auxílio de uma lupa. Com a nova ferramenta, os dados são gerados a partir da mobilização popular, e ficam disponíveis à toda a população. “Além de promover ações de vigilância e monitoramento, esse novo sistema permite a união e formação de novos núcleos participativos em torno de um grave problema de saúde pública”, destacou Genimar.
O projeto AeTrapp de monitoramento cidadão do Aedes aegypti foi contemplado pelo Prêmio Desafio de Impacto Social Google 2016. Para saber mais sobre esta ferramenta e construir a sua armadilha, acesse a página oficial do aplicativo.
Texto: José Gadelha
Fotos: Fiocruz Imagens/Divulgação AeTrapp