Organizado pela Fiocruz Rondônia, o 1° Simpósio de Medicina Tropical e Doenças Transmitidas por Vetores do Estado de Rondônia (Simetrop) teve a sua inauguração na manhã desta terça-feira (26/9). O evento tem como principal objetivo trazer à tona os avanços em pesquisa realizados no campo da Medicina Tropical, visto que a região Norte do Brasil é caracterizada por uma maior prevalência de doenças consideradas negligenciadas, além de permanecer distante dos grandes centros de compartilhamento de informações e com maiores carências por investimentos em pesquisa.
Às 9h (horário local), houve a abertura do encontro com a fala inicial dos organizadores. A mesa foi composta pelo diretor da Fiocruz Rondônia, Jansen Medeiros; a representante da Comissão Organizadora do Simetrop, Maísa Araújo; o diretor do Departamento de Apoio à Pesquisa e de Formação em Recursos Humanos em Ciência e Tecnologia da Fapero, Marcus Vinícius Rivoiro; a pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa da Universidade Federal de Rondônia, Madalena Cavalcante; e o diretor de Pesquisa e Inovação do Instituto Federal de Rondônia, Marcos Barros Luiz.
Ao abrir as falas, Jansen Medeiros destacou a importância do congresso.
Esses eventos são horizontes para alunos de iniciação, mestrado e doutorado. É extremamente importante a gente fazer esses eventos aqui em Rondônia. Nós temos uma carência muito grande de eventos de ciência e tecnologia aqui no Estado. A Fiocruz tem promovido algumas iniciativas, mas é importante que a gente cultive essa iniciativa e comece a fazer com mais frequência. A gente precisa agitar esse ambiente”,
afirmou.
Na sequência, o professor Marcos Barros marcou o pioneirismo da instituição no assunto. “Falar sobre Medicina Tropical na Amazônia é algo extremamente importante e a Fiocruz Rondônia surge como pioneiro nessa história, entendendo a necessidade de conectar as pesquisas básica e aplicada ao desenvolvimento regional e, sobretudo, uma pesquisa que faça sentido às comunidades que formam a Amazônia”, disse.
Em seu discurso, Madalena Cavalcante celebrou a união das instituições públicas em prol da ciência, além de reforçar o engajamento da comunidade acadêmica. Marcus Vinícius seguiu. “Sem pesquisa, a sociedade não se moderniza e não alcança o progresso merecido. E nós, povos amazônicos e amazônidas, não alcançamos nossa dignidade plena. Continuem pesquisando e dedicando vida à vida de todos nós”, destacou.
Para encerrar a apresentação, Maísa Araújo reforçou a dificuldade de se fazer ciência na região Norte e celebrou a oportunidade que estava sendo oferecida no momento.
Homenagem ao Professor Luiz Hildebrando Pereira da Silva
Ainda na mesa de abertura, os organizadores registraram seus agradecimentos ao médico sanitarista e professor Luiz Hildebrando Pereira da Silva, falecido em 2014. Luiz foi um dos mais notáveis pesquisadores em doenças tropicais do mundo e contribuiu imensamente para a saúde pública no Brasil, especialmente em Rondônia, estado para o qual decidiu se mudar, com sua aposentadoria no Instituto Pasteur, em Paris.
O professor Marcos Barros destacou a relevância e o legado do pesquisador. “A gente olha a história de um desses pioneiros – quem sabe até o maior desses pioneiros – que muitos que estão aqui tiveram a oportunidade de ser formados por ele, o professor Luiz Hildebrando Pereira da Silva. Quando observamos todo o seu legado, tudo aquilo que ele promoveu, mesmo em seu período de aposentadoria: ele decidiu vir para o Norte, escolheu Rondônia como seu franco para batalhar por uma pesquisa que faz sentido, uma pesquisa engajada”, comentou.
A pró-reitora Madalena Cavalcante também fez menção ao cientista. “Quando fala de doenças tropicais, a gente lembra, aqui em Rondônia, logo do professor Hildebrando. O evento ganha extrema relevância não só pela figura do professor, mas por ser um tema extremamente relevante para a Amazônia”, afirmou.
Durante o simpósio, está sendo exibida a exposição A trajetória de um cientista engajado: Luiz Hildebrando Pereira da Silva. O memorial ficará exposto durante todo o evento.
Palestra de abertura
Dando início às discussões, houve a palestra com o tema Reflexões sobre mudanças climáticas, mobilidade humana e saúde global, realizada pela doutora em Demografia e professora associada da Harvard Marcia Castro.
Em sua apresentação, a pesquisadora abordou temas relacionados ao meio ambiente, saúde pública, impactos das ações humanas na natureza, desastres ecológicos, desmatamento, garimpo ilegal, relação das mudanças climáticas com o agravamento de doenças infecciosas e as consequências do aumento da temperatura média global enfrentado nos últimos anos. Com destaque para o bioma amazônico, a cientista apresentou dados e informações diversas sobre as pautas, além de responder dúvidas dos presentes ao final da palestra.
Castro relembrou ainda que sua primeira viagem à Amazônia e local onde iniciou suas pesquisas sobre malária na região foi em Rondônia, mais especificamente na cidade de Machadinho d’Oeste.
Programação
Ainda na terça-feira, o simpósio contou com mesas-redondas. A primeira teve como tema Tratamento e vacinas para doenças tropicais. Já na parte da tarde, os palestrantes participaram da conversa temática Malária e seus avanços. A última mesa-redonda do dia debateu Relação Parasita-Hospedeiro.
Nesta quarta-feira (27/9), segundo e último dia do Simetrop, o simpósio se iniciou às 8h30 com as apresentações orais dos trabalhos submetidos ao Simetrop. Em seguida, a primeira mesa-redonda aborda Estratégias para o controle vetorial. A mesa temática Doença de Chagas e suas implicações ocorre na sequência.
No turno vespertino, o evento volta com a mesa Arboviroses e zoonoses de importância na Amazônia. Seguindo a programação, acontece o debate Leishmaniose e vetores no Brasil.
No encerramento, a Comissão Organizadora faz uma homenagem ao professor Luiz Hildebrando Pereira da Silva e apresenta a premiação, que traz o nome do pesquisador.
O Simetrop conta com o apoio financeiro da Fundação de Amparo ao Desenvolvimento das Ações Científicas e Tecnológicas e à Pesquisa (Fapero), do Instituto Nacional de Epidemiologia da Amazônia Ocidental (INCT-EpiAmO), da Fundação Bill e Melinda Gates e CNPq.
João Pedro Sabadini (Agência Fiocruz de Notícias)